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Personal Branding e o ser palhaço

Aconteceu de novo. Assisti uma live que me inspirou a ponto de eu escrever uma resenha literária dela.


Dessa vez foi no Story Talks Café, programa que acompanho e sou fã, pelos assuntos, e pela energia dos entrevistadores. . Ele é apresentado por Bruno Scartozzoni e Paulo Ferreira , da Story Talks, empresa de Storytelling, onde já tive o prazer de fazer alguns treinamentos.


O assunto era branding pessoal, construção de sua marca individual.


A live foi ótima, em primeiro lugar, pelo conhecimento e carisma da entrevistada, Nilma Quariguasi. Ela conseguiu passar conhecimento de forma tranquila, didática e até certo ponto informal. Interessante como isso é mais interessante do que uma aula. E é muito legal ter, além do conhecimento, um pouco da vida do entrevistado. Uma coisa que sempre emociona é quando você percebe que a pessoa age de acordo como que fala. Isso para mim e a base da autoridade. Inclusive a tática de carreira e a ética pessoal dela se aproximam.


O segundo motivo que me animou a escrever sobre essa live é que ela me deu muitos insights criativos, pois o conhecimento dela dialoga muito com meu próprio trabalho. Nos últimos anos criei processos de reinvenção pessoal que dialogam muito com o conceito de Branding Pessoal. Nilma nao trabalha muito com arquétipo, que eu, como ficcionista, trabalho muito. No entanto, as linguagens são parecidas.


Foi lindo ver como os debates que acontecem na área artística estão chegando também ao debate do marketing. O próprio marketing está se humanizando. Isso admito, me dá certa esperança, na humanidade


Vou tomar a liberdade de fazer alguns links, tentando criar pontes entre conhecimentos de áreas distintas: arte terapia e branding pessoal. Faço isso pois acredito que tudo que precisamos hoje e de pontes interdisciplinares, mostrando que há várias pessoas fazendo coisas parecidas em várias áreas. Essas sínteses serão a base do conhecimento inovador que precisamos ter no futuro.


Vamos começar pela entrevistada.


Ela explicou que uma forma muito efetiva que mostrar autoridade e você mostrar seu processo de aprendizado. Isso é a nova forma de construção de autoridade.


Ela explica: “Você deve se permitir ser humano e falar nao sei. Mostrar que está aprendendo. Vou dividir isso com vocês”.


Isso é muito revolucionário. Pois é uma nova definição de autoridade. A autoridade que vem de você se reconhecer falível. Ela passa um conceito que é “cultivar um defeito”, que achei genial.


A vulnerabilidade é natural nossa, mas não é comum dividir com os outros. Isso é natural. Ela recomenda para você “escolha um defeito”. A pergunta é: “O que você toparia mostra que seria um defeito que você pode mostrar?”.


O curioso é que nos processos de criação artística isso o princípio do palhaço: revelar seu defeito. Quem já fez Formação em Palhaço sabe a importância de perceber seu defeito e utilizá-lo. Isso é a base do método Terapia do Humor, onde trabalho com os defeitos para a prática do autobullying. Eu, evidentemente, sou contra o bullying. Mas o autobullying e a salvação da humanidade. O autobullying é a vacina contra o bullying real.


O mais legal é a consciência de como a vida de cada um de nós pode ser tratada como um Filme. E você deve aprender a construir seu personagem. Sei que boa parte do debate a Nilma mostrou a diferença entre construir sua marca pessoal e criar um personagem, destacando que ela não “ Cria” um personagem, apenas ajuda você a construir uma essência.


O curioso é que esse princípio de NÃO ser um personagem é justamente o treino de palhaço. Todo treino de técnicas de palhaço e baseado na ideia de des-cobrir uma essência sua, no caso uma caricatura cômica Mas ao ouvir Nilma nao pude deixar de lembrar de minha mestre palhaço, Cileia Biagioli, dizendo: Palhaço não é um personagem. É você! Muito interessante pensar esses links.


Nilma cita um autor, acho que Tom Peters: “você é a emoção que você gera no outro!” . Eu nao conhecia essa frase e poucas vezes vi uma frase que define melhor o conceito de Sua Vida é um filme. Afinal, uma definição que costumo dar em aulas de roteiro audiovisual é muito parecida: O filme é a emoção que ele desperta no público. O processo de Personal Branding e você se tornar diretor de seu próprio filme. Ou melhor, de sua própria vida.


Em um determinando momento o debate foi para o figurino. Ou melhor, o visual.

Nilma mostra como a identidade visual causa impacto direto. E ela explica que escolher o que você vestes nao é questao do que você gosta!


“É questão do efeito que quer causar”.


Isso é exatamente o que uma figurinista e uma diretora de cinema fazem quando escolhem a identidade visual (não figurino) de um personagem.


Com toda generosidade do mundo Nilma mostrou seu próprio processo e conta como ela mesmo construiu sua identidade. Ela tinha um visual muito romântico, de mulher frágil. Renda babado, meio princesa. Quando começou a trabalhar com área artística ela sentiu que podia não passar autoridade. Ela mudou o estilo do vestuário , se tornando um pouco menos princesa, até mais formal, até mais masculina. E isso impactou. Não era só identidade visual, era postura, como criava o material de redes sociais. Ela contou com isso foi também impactou no próprio “ modo” como ela vê a vida, mantendo seu tom “ fofo” mas assumindo uma personalidade mais empoderada, como é visível na postura dela diante das câmeras.


Essa mudança trouxe vários efeitos em sua vida:


“Parei de comprar compulsivamente!”


Nilma mostrou como todos tem uma marca pessoal, uma persona pública:


“Quando você tem uma marca e não tem consciência disso você vive na aleatoriedade. Tomando consciência você começa a tomar posse dessas escolhas “


Muito interessante isso. Sem consciência de sua persona você não consegue sequer escolher e por exemplo, compra compulsivamente. Como sabemos o consumo exacerbado e um dos motivos de toda crise ecológica que vivemos. Ter consciência de quem você realmente e ajuda a consumir menos. Até a ecologia começa no auto conhecimento.


Achei maravilhosa essa percepção de que você pode mudar o seu ser interior a partir da mudança do seu ser exterior (suas roupas). Esse é um poder quase mágico, de criar uma nova realidade a partir de uma aparência. E como se você, no início, começasse a fingir ser alguém mas você, logo, virá esse alguém. Eu gosto de chamar esse processo de “ inventa-te a ti mesmo”. É, praticamente, uma nova forma de ver a terapia. Mais lúdica, mais brincalhona. Todo princípio da Terapia é baseada no Conhece-te a ti mesmo, no foco no conhecimento interior. Isso é claro, é fundamental. Mas, as vezes, você pode, de forma complementar, a criar um “quase personagem” que é o que você quer ser. E , aos poucos, você virá isso. É um processo de auto-invenção consciente.


Isso e ainda mais importante no mundo contemporâneo: assumir identidades!


Fernando Pessoa, nosso guru português, tinha 4 heterônimos mais famosos. Ele também não define os heterônimos como personagens, mas eles tem bibliografia própria, outro aniversário, mapa astral e , principalmente, um jeito próprio de ver a vida, que se reflete em um estilo literário.


Hoje cada vez mais precisamos ter várias identidades.


Nilma citou a Cultura slash, o profissional que vive de vários bicos, em ambientes diferentes. Tem que saber se adaptar.


Há pesquisas que mostram também como as pessoas se reinventam várias vezes durante a vida, renascem para novas profissões. Isso obriga você a saber que sua imagem dialogue com vários públicos.


Hoje em dia as pessoas não apenas mudam de profissão durante a vida. Ela, às vezes, tem várias profissões ao mesmo tempo.


Às vezes para alguma delas ela precisa ser diferente do que das outras.

Pois algumas profissões exigem personagens. Dj e bancário? Obviamente tem duas profissões. Tenho amigos que trabalham no banco de dia e são drag queens a noite.


Esse exemplo é mais explícito. Algumas profissões exigem personagens mais explícitos. Mas esse exemplo apenas ajuda a ver que todos nós temos que fazer isso. Todos nós temos várias identidades, cada uma para um determinado público.


Eu costumo falar de forma mais rápida e incisiva, mas quando visito minha mãe de 84 anos me esforço para falar mais calmo e baixo. É outra vibração. É um outro Newton que aparece. Claro que isso não pode virar esquizofrenia, múltipla personalidade. Para evitar isso os místicos acreditam que é preciso um “Eu Superior” que comanda todas suas personas. É simples, afinal.


Não somos atores, como Nilma enfatizou. Mas aos poucos iremos ter essa consciência de ser performances. Afinal , a vida e um palco. Inclusive hoje os melhores atores, são aqueles que são grandes performances.


Por fim, queria falar um pouco do formato da Live. Bruno e Paulo criaram um formato delicioso.


Eles se botam nos extremos da tela , com o entrevistado no meio. Isso dá um clima ótimo, onde os dois amigos e sócios, se complementam e criam um ambiente onde o debate flui melhor.


Ao mesmo tempo entra frases com os comentários dos espectadores, criando um clima de conversa e interação, que lembra o melhor do rádio ao vivo. Mas ainda melhor, pois como o público é menor, você participa mais.


Foi uma delícia participar.


Como tinha dois alunos meus (um de roteiro), outra uma aluna do curso de Divas e de Profeta Tropical, eu comecei a interagir com eles também o que aumentou minha sensação de estar numa comunidade. Tive então uma nova ideia, alem da critica de lives. Formar uma turma de alunos que escolhe lives para frequentar juntos e depois grava outra live comentando elas. Uma espécie de Navio onde os alunos participam juntos de lives (aulas) que eles escolhem coletivamente. Uma Nau dos Insensatos que buscam a sensatez.


Os alunos sempre foram obrigados a assistir aulas. Agora é uma turma que escolhe a aula. Ou seja, a mesma turma em várias lives diferentes. Isso mantém o melhor da escola; a turma de alunos que estuda junto. Mas exclui o mais chato da escola: as aulas obrigatórias. Esse para mim e o formato da Universidade do futuro. Um coletivo de alunos que decide o que querem estudar juntos.


Newton Cannito é roteirista de cinema e tv e criou o Método Sua Vida é um Filme, que mistura técnicas de autoconhecimento com storytelling.

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